sábado, 13 de novembro de 2010

A pipa e a flor




Poucas pessoas conseguiram definir tão bem os caminhos do amor como Rubens Alves, numa fábula surpreendente, cujos personagens são uma pipa e uma flor.



A história começa com algumas considerações de um personagem que

deduzimos ser um velho sábio. Ele observa algumas pipas presas aos fios

elétricos e aos galhos das árvores e sente-se triste por vê-las nesta

condição: porque as pipas foram feitas para voar! Ele acrescenta que as

pessoas também precisam ter uma pipa solta dentro delas para serem

boas. Mas aponta um fator contraditório: Para voar, a pipa tem que

estar presa numa linha e a outra ponta da linha precisa estar segura na

mão de alguém. Poder-se-ia pensar que, cortando a linha, a pipa

pudesse voar mais alto, mas não é assim que acontece. Se a linha for

cortada, a pipa começa a cair.



Em seguida, ele narra a história de um menino que confeccionou uma

pipa. Ele estava tão feliz, que desenhou nela um sorriso. Todos os

dias, ele empinava a pipa alegremente. A pipa também se sentia feliz e,

lá do alto, observava a paisagem e se divertia com as outras pipas que

também voavam.

Um dia, durante o seu vôo, a pipa viu lá embaixo uma flor e ficou

encantada, não com a beleza da flor, porque ela já havia visto outras

até mais bonitas, mas alguma coisa nos olhos da flor a havia

enfeitiçado. Resolveu, então, romper a linha que a prendia à mão do

menino e dá-la para a flor segurar. Quanta felicidade ocorreu depois! A

flor segurava a linha, a pipa voava; na volta, contava para a flor tudo

o que vira.



Acontece que a flor começou a ficar com inveja e ciúme da pipa.

Invejar é ficar infeliz com as coisas que os outros têm e nós não

temos; ter ciúme é sofrer por perceber a felicidade do outro quando a

gente não está perto. A flor, por causa dessses dois sentimentos,

começou a pensar: se a pipa me amasse mesmo, não ficaria tão feliz

longe de mim...

Quando a pipa voltava de seu vôo, a flor não mais se mostrava feliz...

estava sempre amargurada, querendo saber com o que a pipa estivera se

divertindo. A partir daí, a flor começou a encurtar a linha, não

permitindo à pipa voar alto.

Foi encurtando a linha... até que a pipa só podia mesmo sobrevoar a

flor.



Esta história, segundo o autor, ainda não terminou e está acontecendo

em algum lugar neste exato momento.

Há três finais possíveis para ela:

1. A pipa, cansada pela atitude da flor, resolveu romper a linha e

procurar uma mão menos egoísta

2. A pipa, mesmo triste com a atitude da flor, decidiu ficar... mas

nunca mais sorriu

3. A flor, na verdade, estava enfeitiçada... e o feitiço se quebraria

no dia em que ela visse a felicidade da pipa e não sentisse inveja ou

ciúme. Isso aconteceu num belo dia de sol e a flor se transformou em

uma linda borboleta e as duas voaram juntas...



Este texto foi dado em uma festa em que se comemorava os 40 anos de um

casamento... Ficou patente o porquê da união duradoura deles.

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