terça-feira, 9 de março de 2010

Morrer .........................



A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida



Que eu já tô ficando craque em ressurreição.


Bobeou eu tô morrendo


Na minha extrema pulsão


Na minha extrema-unção


Na minha extrema menção


de acordar viva todo dia


Há dores que sinceramente eu não resolvo


sinceramente sucumbo


Há nós que não dissolvo


e me torno moribundo de doer daquele corte


do haver sangramento e forte


que vem no mesmo malote das coisas queridas


Vem dentro dos amores


dentro das perdas de coisas antes possuídas


dentro das alegrias havidas.


Há porradas que não tem saída


há um monte de "não era isso que eu queria"


Outro dia, acabei de morrer


depois de uma crise sobre o existencialismo


3º mundo, ideologia e inflação...

 
A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida


ensaiar mil vezes a séria despedida


a morte real do gastamento do corpo


a coisa mal resolvida


daquela morte florida


cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos


cheio do sorriso culpado dos inimigos invejosos


que já to ficando especialista em renascimento.


Hoje, praticamente, eu morro quando quero:


às vezes só porque não foi um bom desfecho


ou porque eu não concordo


Ou uma bela puxada no tapete


ou porque eu mesma me enrolo


Não dá outra: tiro o chinelo...


E dou uma morrida!


Não atendo telefone, campainha...


Fico aí camisolenta em estado de éter


nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!


Tô nocauteada, tô morrida!


Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa


não tem aquela ansiedade para entrar em cena


É uma espécie de venda


uma espécie de encomenda que a gente faz


pra ter depois ter um produto com maior resistência


onde a gente se recolhe (e quem não assume nega)


e fica feito a justiça: cega


Depois acorda bela


corta os cabelos


muda a maquiagem


reinventa modelos


reencontra os amigos que fazem a velha e merecida


pergunta ao teu eu: "Onde cê tava? Tava sumida, morreu?"


E a gente com aquela cara de fantasma moderno,


de expersona falida:


- Não, tava só deprimida.


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